História

 
 
A Equipe Bora?! é uma turma de apaixonados por Fuscas que resolveu se juntar para realizar viagens pelo interior de Minas.


Como tudo começou.....


Bora Viajar de Fusca, Gente?

Por Luís Sander

 

 

Um grupo de pessoas que nunca se viram, um site na internet, uma foto, e a paixão em comum por um carro, o Fusca. Essa foi a lista de ingredientes principais para uma das receitas mais bem realizadas dos últimos tempos, em se tratando de encontros automobilísticos: a “1ª. Viagem ao Interior de Minas, Bora?!”, que aconteceu nos dias 16 e 17 de maio de 2009.

Um grupo de participantes do Fórum Fusca Brasil – um grupo de apaixonados por VW a ar que troca milhares de idéias de todos os tipos diariamente pela internet sobre os seus e outros carros – um dia se encontraram num tópico intitulado “Mostre sua cara”, onde os usuários postavam suas próprias fotos para que os demais pudessem conhecê-los “pessoalmente”, já que a maioria ali se falava a partir do teclado havia muito tempo, sem ter a oportunidade de se encontrar. Um deles era eu, Luís Sander, fuscamaníaco de Belo Horizonte. Certo de que já haveria gozação, coloquei no tópico uma foto minha sentado à beira de um balcão, sendo servido da famosa cachaça mineira, numa visita que fiz a um tradicional alambique na pequena cidade de Coronel Xavier Chaves, no sul de Minas. Foi o bastante para que alguém já comentasse sobre – óbvio – a bebida e minha cara de bêbado. Era o Marcel Franco, outro fantástico mineiro residente em Viçosa, uma cidade próxima a Ouro Preto, não muito distante de onde havia sido tirada a tal foto.
 
Em pouquíssimos “posts” – nome que se dá a cada comentário postado por usuários de um fórum como esse – nossa conversa acabou se transformando na idéia de fazer um passeio pela bela região sul-mineira onde se situam até hoje importantíssimas cidades históricas, e de Fusca, é claro. Tal região é também um trecho da conhecida Estrada Real, uma intrincada rede de caminhos por onde iam e vinham pessoas para o centro do pais, e por onde escoavam-se as riquezas das Minas Gerais - o ouro e os diamantes.

A partir desse dia, 31 de março de 2009, a vontade de viajar de fusca cresceu e se espalhou em proporções exponenciais, recebendo adesões, informações e novas ideias dos membros do Fórum. Um novo tópico – agora específico sobre a viagem - foi criado e nosso grupo continuou a aumentar, enquanto o roteiro ia sendo traçado, as cidades iam sendo escolhidas, os tempos e distâncias calculados, as paradas e pontos de encontro. E então, da criatividade de um outro mineiro, dessa vez de Barbacena (também na região), o Cláudio, saiu o nome “Bora?”, uma corruptela de “Vamos embora?”, muito utilizada em Minas.
 
Novos adeptos surgiram, fuscamaníacos de várias cidades de Minas e até outros estados também se manifestaram, e a data foi marcada. O trajeto incluía ainda, em princípio, uma parada na maravilhosa e gelada Lavras Novas, onde o grupo comemoraria sua união com um churrasco e passaria a noite de sábado para domingo, além da já mencionada Coronel Xavier Chaves (a tal foto do alambique, que começou tudo...), São João Del Rei e Tiradentes.

E assim, vindos de todos os lados, esses homens loucos e suas máquinas maravilhosas se encontraram na cidade histórica - e patrimônio da humanidade – de Ouro Preto, numa bela manhã de sábado, dia 16 de maio, com destino a Bichinho, distrito de Prados, próximo a São João Del Rei. Juntos na Praça Tiradentes, em Ouro Preto, estavam cerca de treze VW a ar (havia uma Variant 73 placa preta e, mais tarde surgiu no grupo uma Brasília, maravilhosas as duas) esperando o início de uma linda fusqueata, enquanto amizades iam se consolidando, motores roncavam, e adesivos eram distribuídos e colados nos vidros.

Nessa hora me vêm à mente e ao coração a lembrança de todos os amigos de viagem, e assim quero agradecê-los pelo ânimo e coragem, pelo alto-astral, pela solidariedade e espírito aventureiro: Marcel Franco e seu pai, Nilo, o Cid de São Paulo e o Cid carioca, o fabuloso Paulo Mota com sua carretinha feita com uma traseira de Fusca, o Léo, o Bruno do Portal do Fusca de BH, o grande churrasqueiro Celso, Júlio, Borges, Cláudio, Urbano, Aristides, Gilmar, Paulo, o Juliano do Clube do Fusca de Poços de Caldas, e mais um ou outro que minha fraca memória pode ter deixado escapar. Era muita gente, e mais esposas, namoradas, filhos, era muito carro e muita vontade de fazer daqueles dois dias um fim de semana inesquecível! Então, pela primeira vez, é escutado o grito, emitido por uma voz humana e não digitado num teclado: “BORA?!?!”

Uma euforia! Muitos sorrisos. Eu, a bordo do meu Fusca 75 1300 andando bravamente com a companhia de meus dois filhos e minha nora, não aguentava tamanha emoção: havia anos que não viajava de Fusca, e era a primeira vez que fazia parte de um grupo como aquele! O grupo seguia feliz numa fila comprida de Fuscas enfrentando asfalto, curvas, subidas, descidas e estradas de terra. Sempre observados pelo olhar deslumbrado de quem via os carrinhos passando e, claro, se identificava com o som dos motores a ar e dos inevitáveis “bi, biiii”, e respondia com um sorriso. Era inacreditável a sintonia entre os participantes, gente que nunca havia se visto antes, era maravilhosa a interação que nossos carros proporcionava. Sobe morro, desce morro, chegamos à linda Lavras Novas, onde fizemos um delicioso churrasco até a madrugada, e onde tivemos a oportunidade de firmar de uma vez por todas nossa amizade, apreciar os carros, falar (muito) de Fuscas e afins, e rir e conversar muito.

Dia seguinte, muita neblina e com o termômetro marcando algo bem perto do zero, uns animadíssimos e outros com uma certa ressaca, seguiu a fusqueata pela belíssima estrada que liga Ouro Preto a Ouro Branco, uma sucessão de curvas suaves entre as montanhas e matas, num trecho onde se preservam até hoje pontes de pedra do século XVIII e por onde muita tropa de mulas e muita riqueza já passou. Atrasados, pois ninguém é de ferro, infelizmente não passamos por Coronel Xavier Chaves para visitar o alambique onde foi tirada a foto causadora de tudo (ainda bem, pois estávamos dirigindo e seria um pecado não poder experimentar a cachaça da região, já mundialmente famosa), seguindo direto para São João Del Rei. Foi lá que se juntou a nós o Cláudio, de Barbacena, o criador do nome “Bora?”, em seu impecável 71, a caminho de Tiradentes e depois Bichinho, onde almoçaríamos uma deliciosa comida mineira.
 
Antes, porém, uma parada num lugar fabuloso: O Museu do Carro Antigo da Estrada Real. Entre Tiradentes e Bichinho, numa tortuosa estrada calçada por pedras e com a maravilhosa vista da Serra de São José ao fundo, encontra-se esse museu, uma parada aconchegante e muito interessante onde se pode visitar o acervo particular do Sr. Rodrigo Moura, algo em torno de 40 carros antigos, sem contar os outros tantos aguardando restauração. Um lugar de encher os olhos, um programa imperdível!

Já mortos de fome, paramos alguns quilômetros à frente, em Bichinho, distrito de Prados, ainda bem próximo de Tiradentes, um povoado interessantíssimo e um paraíso para aqueles que querem comer bem e comprar artesanatos típicos da região. Lá rumamos direto para o “Tempero da Ângela”, famoso restaurante de comida típica da região. A modesta e sorridente Ângela já nos aguardava com um imenso quiosque repleto de mesas reservadas para o grupo, além da inacreditável hospitalidade com que ela e sua família costumam receber os clientes. Pudemos – e já era tempo! – trocar enfim os bancos de Fusca pelos bancos de madeira, e o cheiro de gasolina pelo delicioso aroma da comida feita em fogão de lenha. Era muita comida, e muita comida boa!

E assim, tristes pelo final que se aproximava e pelo efeito de tanta comida, que começaram as despedidas, em torno das 2 da tarde. Era o fim do “Bora?”, mas apenas o fim do primeiro. Dava pra notar pelas nossas caras cansadas e satisfeitas que aquilo nunca iria acabar ali. Alguns até já combinavam o próximo passeio, já trocavam telefones, e todos se abraçavam, amigos de verdade afinal. Um último “até logo”, e carros na estrada. Alguns ainda pegariam muito chão até chegar em casa, outros nem tanto, mas o dia seguinte era segunda-feira, dia de trabalho, de esquecer as estradas de terra e a comida mineira farta, dia de encarar trânsito difícil e correr atrás das responsabilidades.

Cheguei em casa cansado mas ainda eufórico, tomado por uma emoção que havia muito não sentia. Foi realmente emocionante como conseguimos montar um esquema desse tamanho, ninguém conhecendo ninguém, apenas via internet e em tão pouco tempo! Impressionante como todos nos demos muito bem, muito bacana a simpatia e a união que envolveu todo o grupo. No final de tudo, acho que só mesmo Fuscas pra terem donos tão solidários, bem humorados e festeiros, e só mesmo os Fuscas pra conseguir tamanha façanha!


Sem privilegiar um ou outro, eu agradeço de coração a TODOS os que participaram desse passeio, todos esses guerreiros e guerreiras, adultos, crianças, todo mundo que de qualquer forma tenha prestigiado esse nosso encontro. Parabéns a essa galera animada, a essa gente que comeu asfalto vindo de longe até as Minas Gerais, parabéns a cada um, seja mineiro, paulista, carioca, o que for! Parabéns mesmo por cada sorriso, cada informação, cada idéia, cada conversa, cada quilômetro rodado.

Saímos estranhos, voltamos amigos. Sim, amigos de verdade, amigos de abraçar forte, bater nas costas e dizer "sentiremos saudades!".
 
E até o próximo “BORA?”!!!